sábado, 28 de agosto de 2010

Tecnologia brasileira pode acabar com segunda maior causa de morte em transplantes de coração.


Tecnologia brasileira pode acabar com segunda maior causa de morte em transplantes de coração

Pesquisadores utilizam nanotecnologia de ponta para lutar contra um dos maiores problemas em transplantados

Marco Túlio Pires, de Águas de Lindóia
Arterosclerose
Acima, vaso sanguíneo lesionado por causa da doença coronária do transplante. Abaixo, técnica brasileira consegue reduzir o processo inflamatório em 50% (Divulgação)
Partícula se disfarça para carregar anti-inflamatórios até o coração
Na Ilíada, história épica escrita por Homero, os gregos passam pelas impenetráveis muralhas de Troia utilizando um cavalo de madeira recheado de soldados que conquistam a cidade. Agora, cientistas brasileiros revivem a estratégia para reverter um dos maiores problemas do transplante de coração, a doença coronária do transplante. A tecnologia, 100% brasileira, é fruto de 23 anos de pesquisa e promete reverter o quadro dos pacientes, diminuindo significativamente o nível de rejeição do novo coração e, quem sabe, de vários outros tipos de transplantes.
A doença coronária do transplante obstrui os vasos do coração e atinge cinco a cada 10 pacientes operados após cinco anos. É segunda maior causa de morte entre os pacientes, atrás apenas da rejeição aguda, que pode ocorrer no primeiro ano desde a operação. Para tentar reverter esse quadro, que não possui tratamento, Neodir Stolf, diretor do Instituto do Coração da USP lançou mão de uma pequena partícula criada pelo seu colega de pesquisa, o professor da faculdade de farmácia da USP e especialista em nanotecnologia Raul Maranhão. 
A invenção de Maranhão é uma molécula sintetizada em laboratório que por fora parece um complexo químico de colesterol (LDL), mas por dentro carrega um poderoso agente anti-inflamatório, o paclitaxel. Essa droga é muito utilizada para o tratamento do câncer e é capaz de acabar com o processo de inflamação.
A ideia de criar o nano-cavalo de Troia surgiu porque as células do câncer atraíam grandes quantidades de partículas de LDL para si. Anos depois, Maranhão descobriu que não apenas as células de câncer, mas qualquer tipo de processo inflamatório atraía essas moléculas. Ele apelidou sua nanopartícula de LDE, pelo fato dela possuir uma proteína que a difere do LDL, a apoE (proteína do colesterol bom). 
Teste em coelhos — A partir de um modelo de transplante cardíaco em coelhos de laboratório, os pesquisadores da USP conseguiram provar que o nano-cavalo de Troia consegue reduzir em 50% a gravidade desse tipo de doença coronária. As moléculas sintetizadas se aglomeraram no coração transplantado em um nível 4 vezes maior que no coração nativo. Como o LDE estava carregado com o fármaco anti-inflamatório, foi possível perceber uma melhora significativa no quadro dos coelhos. “Agora temos uma arma que não existia para tratar um dos principais problemas de transplante do coração”, disse Raul. “A única alternativa seria um segundo transplante, que é completamente inviável”, completou.
Para outros tipos de transplante, Maranhão acredita que a perspectiva seja promissora e venha a diminuir o processo de rejeição dos órgãos transplantados utilizando a mesma técnica. “Isso pode significar a chance de resolver um dos maiores problemas em quase todos os tipos de transplantes”, explicou o médico. Os pesquisadores esperam começar os testes em pacientes já em 2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário